Subarbusto perene de até 2,5 m, muito ramificado, com látex; flores características encimadas por uma pequena coroa e frutos inflados, arredondados, cobertos por espículas de 5-11mm.
Nome científico: Gomphocarpus fruticosus (L.) W.T. Aiton fil.
Nome vulgar: algodoeiro-falso, sedas, sumaúma, sumaûma-bastarda
Família: Apocynaceae (ex.Asclepiadaceae)
Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (anexo II do Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).
Nível de risco: 27 | Valor obtido de acordo com um protocolo adaptado do Australian Weed Risk Assessment (Pheloung et al. 1999), por Morais et al. (2017), segundo o qual valores acima de 13 significam que a espécie tem risco de ter comportamento invasor no território Português | Actualizado em 30/09/2017.
Sinonímia: Apocynum salicifolium Medik.; Asclepias fruticosa L.; Gomphocarpus fruticosus var. angustissimus Engl.; Gomphocarpus fruticosus f. brasiliensis Briq.; Gomphocarpus fruticosus subsp. decipiens (N.E.Br.) Goyder & Nicholas; Gomphocarpus fruticosus subsp. flavidus (N.E.Br.) Goyder; Gomphocarpus fruticosus var. purpureus Schweinf.; Gomphocarpus fruticosus subsp. rostratus (N.E.Br.) Goyder & Nicholas; Gomphocarpus fruticosus subsp. setosus (Forssk.) Goyder & Nicholas
Data de atualização: 24/08/2023
Ajude-nos a mapear esta espécie no nosso projeto de ciência cidadã "invasoras.pt" no BioDiversity4All/iNaturalist. Contribua submetendo registos de localização desta espécie onde a observar.
Como reconhecer
Subarbusto de até 2,5 m, perenifólio, com latex branco, frequentemente com um órgão subterrâneo de reserva. Caules cobertos por pelos.
Folhas: opostas, por vezes, verticiladas (3 em cada nó), lineares ou estreitamente lanceoladas, com 50-125 x 5-15 mm, tomentosas em jovens, quase glabras em adultas; pecíolo de 4-9 mm.
Flores: reunidas em umbelas axilares, com 3-15 flores, cada uma com 12 - 13 mm Ø, brancas ou cremes, com 5 pétalas queratinadas , reflexas, ciliadas, encimadas por uma pequena coroa, com apêndices corniculados, branca, amarelecida ou rosada; pedicelos com 11-23 mm, recurvos na frutificação.
Frutos: Folículos com 30-75 × 25-45(60) mm, inflados, ovóides, apiculados, cobertos de cerdas macias e com espículas de 5-11 mm. Sementes aladas com tufo de pelos brancos de 26 - 40mm.
Floração: abril a novembro.
Espécies semelhantes
Gomphocarpus physocarpus é semelhante, mas distingue-se por ter frutos arredondados e que terminam numa ponta afundada com um bico minúsculo, enquanto G. fruticosus tem frutos ligeiramente curvados que terminando num bico curto e curvo. As 2 espécies forma híbridos produzindo plantas com características intermédias difíceis de distinguir. Asclepias também são semelhantes mas as umbelas são terminais e as flores rosadas, avermelhadas ou alaranjadas (e não brancas, cremes, amarelas como Gomphocarpus).
Características que facilitam a invasão
Sementes dispersadas pelo vento e água; plantas dispersadas no meio de produtos agrícolas (e.g., forragens) ou lama agarrada a animais, máquinas e outros veículos.
Área de distribuição nativa
África Oriental e Austral (África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Namíbia, sul de Angola, Botsuana, Zâmbia, Zimbábue, Malawi, Moçambique, Tanzânia, Quênia, Etiópia, Somália e Eritreia) e as partes sul da Península Arábica (Omã, Iêmen e partes do sul da Arábia Saudita).
Distribuição em Portugal
Portugal continental (Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Beira Alta, Estremadura, Baixo Alentejo e Algarve), arquipélago dos Açores (todas as ilhas), arquipélago das Madeira (ilhas da Madeira e Porto Santo).
Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.
Áreas geográficas onde há registo da presença de Gomphocarpus fruticosus
Outros locais onde a espécie é invasora
Austrália Oriental, Norte de África e Europa (Alemanha, França, Irlanda, Roménia).
Razão da introdução
Introdução acidental em ambiente natural, após importação para o continente europeu como planta ornamental ou como planta têxtil. Em algumas regiões, no entanto, foi capaz de escapar e assilvestrar-se a partir do cultivo como planta têxtil ou através das vias típicas das ervas daninhas (substratos contaminados, misturas de sementes com impurezas, etc.).
Segundo M. Vidal (apud Flora Ibérica), essa espécie foi cultivada em Marrocos, denominada "siba" e consumida como chá [cf. Bol. Soc. Esp. Hist. Nat. 21: 281 (1921)]. É cultivada em jardins e os pelos das sementes eram utilizados como fibra têxtil e, portanto, foram utilizados no Levante espanhol, desde meados do século XVII, para o fabrico de luvas. A planta é venenosa e as suas raízes contêm uzarina, um heterosídeo cardenólico usado como antiespasmódico, tónico cardíaco e antidiarréico. No entanto, as folhas e raízes secas eram usadas para aliviar dores de cabeça, tratar a tuberculose e como eméticos.
Ambientes preferenciais de invasão
Terrenos incultos, bermas de caminhos e de vias de comunicação (espécie ruderal) ou campos agrícolas, margens de cursos de água (ripícola). Gosta particularmente de solos arenosos bem drenados e secos, de luz solar direta ou sombra parcial.
Impactes nos ecossistemas
Compete com a vegetação nativa nos ambientes preferenciais de invasão, sendo capaz de formar mantos densos e assim reduzir a biodiversidade.
Impactes económicos
Infestações densas podem reduzir a produtividade das pastagens.
Outros impactes
É tóxica para os animais, incluindo para os seres humanos, havendo registos de ter causado mortes em bovinos, ovinos e aves. Raramente é consumida fresca pelo gado, mas pode ser perigosa se contaminar forragem ou palha. A gastroenterite grave é o principal sintoma de envenenamento por esta espécie.
O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
São recomendadas boas práticas de biosegurança para evitar a introdução de G. fruticosus: não cultivar como planta de jardim e evitar comprar solo ou outros materiais paisagísticos que possam estar contaminados com sementes ou outras partes desta planta. Ter especial cuidado ao comprar forragens, pois as mais baratas podem estar cheias de sementes de plantas daninhas ou tóxicas; usar equipamentos limpos para evitar a introdução de novas ervas daninhas – passando por um compartimento de lavagem, se necessário.
As metodologias de controlo usadas em G. fruticosus incluem:
Controlo físico
Remoção mecânica das plantas ainda pequenas, com menos de 1 m (antes de amadurecerem e produzirem semente): tração manual de todas as raízes (a planta possui um sistema radicular raso), tomando as medidas apropriadas para evitar o contato com a seiva tóxica (e.g., uso de luvas e macacões de borracha, a lavagem das mãos antes de comer, porque o contato com a seiva pode causar erupção cutânea ou outros sintomas, para os quais deve-se procurar apoio médico).
O material removido seca rapidamente e deve ser queimado ou enterrado em profundidade. As plantas maduras, com frutos ainda agarrados, têm o potencial de espalhar sementes e infestar novas áreas quando afastadas de sua localização original; devem ser descartadas o mais próximo possível da área invadida.
A destruição das sementes através da queima (danifica as sementes presentes na superfície do solo e no horizonte sub-superficial seguinte) é uma opção eficaz e de baixo custo.
Grandes infestações de plantas adultas (com mais de 1 m de altura) podem ser geridas e controladas usando corte e queima.
Controlo químico
O corte e queima podem ser seguidos com tratamento com herbicida para controlar o novo crescimento. A pulverização com glifosato misturado com metsulfuron metil pode ser muito eficaz no controlo de plantas maiores, e é melhor aplicada por um pulverizador manual de maior capacidade. As plantas devem ser pulverizadas até que as folhas estejam bem molhadas.
Devido à frequente toxicidade dos herbicidas para os invertebrados e outros organismos, incluindo plantas não alvo, não se recomenda a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, respeitando a legislação da EU e nacional sobre a utilização de produtos fitofarmacêuticos e respeitando o meio, as espécies e as condições de aplicação (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).
Controlo biológico
O uso de larvas da borboleta-monarca (Danaus plexippus) foi testado nalguns países, tendo as larvas causado danos ocasionais no caule e nas folhas; no entanto, não foi suficiente para controlar infestações.
Em Portugal ainda não há agentes de controlo biológico disponíveis para esta espécie.
Visite a página Como Controlar para informação adicional e mais detalhada sobre a aplicação correta de algumas destas metodologias.
Arista-Palmero M, Ortiz-Ballesteros P L (2012) Gomphocarpus R.Br. In: Castroviejo S (2012) Flora Iberica - Plantas Vasculares de la Peninsula Iberica y de las Islas Baleares, Vol. CXXXII (APOCYNACEAE): 115-117. Real Jardín Botanico, C.S.I.C, Madrid.
CABI (2020) Gomphocarpus fruticosus. In: Invasive Species Compendium. CAB International, Wallingford, UK. Disponível: www.cabi.org/isc [Consultado 31/05/2020].
Dana ED, Sanz-Elorza M, Vivas S, Sobrino E (2005) Especies vegetales invasoras en Andalucía. Consejería de Medio Ambiente, Junta de Andalucía, Sevilla, 233 pp.
Jardim Botânico da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (2020) Flora Digital de Portugal - ficha de Gomphocarpus fruticosus. Disponível: https://jb.utad.pt/especie/Gomphocarpus_fruticosus [Consultado em 31/05/2020]
Morais M, Marchante E, Marchante H (2017) Big troubles are already here: risk assessment protocol shows high risk of many alien plants present in Portugal. Journal for Nature Conservation 35: 1–12. doi: 10.1016/j.jnc.2016.11.001.
Pheloung PC, Williams PA, Halloy SR (1999) A weed risk assessment model for use as a biosecurity tool evaluating plant introductions. Journal of Environmental Management. 57: 239-251.
Pacific Island Ecosystems at Risk (PIER) (2019) Fact sheet on Gomphocarpus fruticosus. Disponível: http://www.hear.org/pier/species/gomphocarpus_fruticosus.htm [Consultado em 31/05/2020]
Queensland Government Department of Employment, Economic Development and Innovation (2016) Fact sheet on Gomphocarpus fruticosus. Environmental Weeds of Australia for Biosecurity Queensland. DEEDI. Disponível: https://keyserver.lucidcentral.org/weeds/data/media/Html/gomphocarpus_fr... [consultado em 31/05/2020]
Randall, RP (2017) A Global Compendium of Weeds. 3rd Edition. Perth, Austrália Ocidental. ISBN: 9780646967493, 3356 pp.
Sanz-Elorza M, Sánchez EDD, Vesperina ES (2004) Atlas de las plantas alóctonas invasoras en España. Dirección General para la Biodiversidade, Madrid, 96 pp.
The Plant List (2012) Gomphocarpus fruticosus (L.) W.T. Aiton fil. Version 1.1. Disponível: http://www.theplantlist.org/tpl1.1/search?q=Gomphocarpus+fruticosus [Consultado em 31/05/2020]