Planta aquática submersa de cor verde escura, pouco ramificada, com 4 ou 5 folhas por nó. Forma “tufos” no fundo da água, podendo crescer até 6 metros, formando “tapetes” flutuantes junto da superfície.
Nome científico: Egeria densa Planch.
Nome vulgar: elódea-densa, elódea-brasileira
Família: Hydrocharitaceae
Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (Anexo II, Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).
Nível de risco: 20 | Valor obtido de acordo com um protocolo adaptado do Australian Weed Risk Assessment (Pheloung et al. 1999), por Morais et al. (2017), segundo o qual valores acima de 13 significam que a espécie tem risco de ter comportamento invasor no território Português | Actualizado em 30/09/2017.
Sinonímia: Anacharis densa (Planch.) Vict. ; Elodea densa (Planch.) Casp. ; Philotria densa (Planch.) Small; Elodea canadensis var. gigantea L.H.Bailey ; Elodea densa var. longifolia ; Bonstedt Udora densa (Planch.) M.R.Almeida
Data de atualização: 04/09/2023
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Como reconhecer
Planta aquática submersa, dióica, de cor verde escura. Forma “tufos” no fundo da água, podendo crescer formando “tapetes” flutuantes junto da superfície. Os entrenós muito curtos fazem com que os caules tenham um aspecto geral muito denso que se assemelha a cilindros de 2 a 6 cm de espessura e 10 a 90 cm de comprimento.
Raízes: filamentosas, na base das plantas e em alguns nós, especialmente em fragmentos soltos da planta-mãe. Em águas pouco profundas, as plantas podem estar ancoradas ao fundo, em outros casos podem flutuar livres.
Caules: esparsamente ramificados, com entrenós curtos, frágeis, partindo facilmente. “Nós duplos” (i.e., dois nós simples separados por um entrenó muito curto) ocorrem ao longo do caule a cada 6 a 12 nós e produzem ramos laterais, gemas vegetativas e raízes. Os tecidos do caule armazenam carbohidratos.
Folhas: dispostas regularmente ao longo dos caules em densos verticilos, habitualmente com 4 folhas por nó/verticilo, mas podendo ter 5 ou até 6. Folhas sésseis, lanceoladas com 1-3cm de comprimento e 5mm de largura, com ponta arredondada ou acuminada, margens finamente serradas (só visível à lupa), superfície lisa. Intensamente verde quando recebem luz natural, mais pálida em aquários.
Flores: Das axilas de algumas folhas nascem espatas e do seu interior emergem pedúnculos florais de 2 a 6 cm de comprimento que expõem flores solitárias, com cerca de 2 cm acima da superfície da água. As flores masculinas estão em grupos de 2 a 4 por cada espata e são constituídas por 9 estames rodeados por um perianto com três sépalas verdes e 3 pétalas brancas de 15 mm As flores femininas estão isoladas (uma por espata) e possuem também 3 sépalas verdes e 3 pétalas brancas de 15 mm de comprimento; no centro está um ovário unilocular constituído por 3 carpelos, rodeado por 3 estaminóides (estruturas semelhantes a estames, mas estéreis).
Frutos: semelhantes a bagas, ovados, com 7-8 mm de comprimento e 3mm de largura, com um pericarpo membranáceo e transparente. As sementes são numerosas, fusiformes com 7-8mm de comprimento, com um filamento de 2mm na ponta.
Espécies semelhantes
Elodea canadensis, Lagarosiphon major e Hydrilla verticillata têm aparência muito semelhante mas o número de folhas que se unem em cada nó é diferente e as flores de Egeria densa são maiores; consulte a chave ilustrada (baixo) para ver como se distinguem. Ou faça download do .PDF [aqui]
Características que facilitam a invasão
Esta planta tem grande potencial reprodutivo. Reproduz-se por semente, mas é dióica, dependendo da polinização por certos insectos. Ainda assim, mesmo em áreas onde só existem plantas masculinas, como na Nova Zelândia e nos Estados Unidos, esta planta mostra grande capacidade de invasão, reproduzindo-se apenas vegetativamente. Pequenos fragmentos podem ser transportados pela corrente nos rios e ser dispersados acidentalmente por barcos, artefactos de pesca ou outras actividades humanas e cada fragmento (desde que contenha um nó duplo) pode originar uma nova planta e voltar a enraizar. Quando um ramo de Egeria densa se afunda no outono ou inverno, uma coroa de raízes pode desenvolver-se a partir de um ou mais nós-duplos.
O facto de os animais herbívoros (como peixes, aves aquáticas, invertebrados, etc) geralmente preferirem as plantas nativas pode levar à eliminação progressiva destas em locais com presença de espécies exóticas oxigenadoras (e.g. Lagarosiphon major, Egeria densa e Elodea canadensis). Por isso é frequente que acabem por ficar apenas as espécies exóticas, formando comunidades monoespecíficas (com apenas uma espécie).
Pode crescer tanto em águas baixas como mais profundas, podendo viver até 6m de profundidade.
Área de distribuição nativa
América do Sul.
Distribuição em Portugal
Minho,Douro Litoral, Beira Litoral e Açores (S. Miguel, Terceira e Flores).
Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.
Áreas geográficas onde há registo da presença de Egeria densa
Outros locais onde a espécie é invasora
América do Norte (Cuba, Estados Unidos, México, Porto Rico), Europa (França, Holanda, Itália, Reino Unido, Suíça) e Oceânia (Francesa, Ilhas Cook, Nova Zelândia, Polinésia).
Razão da introdução
A principal razão da sua introdução é o seu uso em aquariófilia como planta ornamental e oxigenadora.
Ambientes preferenciais de invasão
Egeria densa vive apenas submersa em água doce, preferindo água parada ou com pouca corrente e temperaturas entre 15 e 17º C. Ocorre tanto em ambientes oligotróficos como eutróficos e tolera grande amplitude de pH. Não tolera bem ensombramento. Pode habitar charcos, lagos, barragens, reservatórios e rios e canais com pouca corrente.
Embora já se encontre introduzida, a sua dispersão em Portugal é ainda relativamente limitada.
Impactes nos ecossistemas
Pode criar tapetes flutuantes densos o que pode causar vários impactes negativos quer a nível ecológico quer económico. Os tapetes densos flutuantes impedem a passagem da luz eliminando as plantas aquáticas nativas e afetando negativamente as populações de invertebrados e vertebrados aquáticos. Pode dificultar a navegação e limitar atividades recreativas como a natação ou a pesca; bloquear os sistemas de aproveitamento hidroelétrico; reduzir o valor estético e afectar negativamente a qualidade da água.
A remoção desta espécie de lagos e reservatórios nos EUA custa a alguns estados vários milhões de dólares por ano.
O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
Egeria densa é muito difícil de controlar. Os métodos que se podem utilizar incluem:
Controlo físico
Remoção mecânica como o corte, arranque manual ou com redes é exequível para pequenas invasões, no entanto, a capacidade de propagação a partir de pequenos fragmentos implica que seja necessário repetir as acções ou até pode resultar num aumento da invasão se a remoção dos fragmentos não for adequada. Há autores que consideram que o controlo mecânico só deve ser usado em locais totalmente invadidos. Em locais que estão em processo de invasão, o uso destes métodos podem acelerar o ritmo de dispersão.
Alguns autores referem o sucesso do controlo localizado de Egeria densa em áreas de natação e docas por ensombramento, com colocação de materiais textéis que bloqueiam a passagem da luz.
Em reservatórios ou lagos onde seja possível baixar o nível da água uma ou várias vezes consecutivas pode ser o suficiente para eliminar esta planta, mas o sucesso desta metodologia está dependente de vários factores como o grau de secura, o tipo de substrato, a temperatura do ar e a presença de neve sendo conhecidos também exemplos de insucesso.
Controlo químico
É referido o uso do herbicida Diquat, apesar do uso de controlo químico em massas de água ter associados riscos ecológicos evidentes.
Devido à frequente toxicidade dos herbicidas para os invertebrados e outros organismos, incluindo plantas não alvo, não se recomenda a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, respeitando a legislação da EU e nacional sobre a utilização de produtos fitofarmacêuticos e respeitando o meio, as espécies e as condições de aplicação (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).
Controlo biológico
Não há nenhum agente de controlo biológico estudado para Portugal. Nos Estados Unidos alguns autores sugerem o uso de peixes herbívoros para controlar Egeria densa, mas não há publicações que confirmem a efectividade e selectividade destes métodos. Estudos feitos no Brasil apontam um fungo, Fusarium graminearum como um potencial agente de controlo biológico.
Estudos realizados com fungos do género Fusarium indicam que estes produzem biotoxinas letais para as plantas dos géneros Egeria e Hydrilla que poderão vir a ter utilidade no seu controlo.
Visite a página Como Controlar para informação adicional e mais detalhada sobre a aplicação correta de algumas destas metodologias.
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Marchante H, Morais M, Freitas H, Marchante E (2014) Guia prático para a identificação de Plantas Invasoras em Portugal. Coimbra. Imprensa da Universidade de Coimbra. 207 pp.
Morais MC, Marchante E, Marchante H (2017) Big troubles are already here: risk assessment protocol shows high risk of many alien plants present in Portugal. Journal for Nature Conservation 35: 1–12
Nachtigal GF, Pitelli RA (2000) Fusarium sp. as a Potential Biocontrol Agent for Egeria densa and Egeria najas. Proceedings of the X International Symposium on Biological Control of Weeds. 4-14 July 1999, Montana State University, Bozeman, Montana, USA, Neal R. Spencer [ed.]. Disponível: http://bugwoodcloud.org/ibiocontrol/proceedings/pdf/10_142.pdf [Consultado 06/12/2017].
Pheloung PC, Williams PA, Halloy SR (1999) A weed risk assessment model for use as a biosecurity tool evaluating plant introductions. Journal of Environmental Management. 57: 239-251.
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