Erva perene estolhosa, rastejante que se espalha formando relvados densos, com caules muito ramificados, folhas azul-esverdeadas. lineares e 2 "espigas" com pedúnculos na terminação dos caules.
Nome científico: Paspalum vaginatum Swartz
Nome vulgar: gramão
Família: Poaceae (Gramineae)
Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (anexo II do Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).
Nível de risco: Em avaliação para Portugal. Atualizado em 31/07/2020.
Sinonímia: Paspalum vaginatum var. littorale (R.Br.) Trin.; Paspalum vaginatum f. longipes Lange; Paspalum vaginatum var. longipes Lange; Paspalum vaginatum subsp. nanum (Döll) Loxton; Paspalum vaginatum var. nanum Döll; Paspalum vaginatum var. pleostachyum Döll; Paspalum vaginatum var. pubescens Döll; Paspalum vaginatum var. reimarioides Chapm.
Data de atualização: 29/08/2027
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Como reconhecer
Erva perene com rizomas curtos e estolhos rasteiros longos, cujas gemas de renovo se mantêm abaixo do solo, formando um relvado denso, com caules muito ramificados, com muitos nós enraizados, com colmos que chegam a 10-50 (80) cm de altura.
Folhas: lineares, estreitas, com 2,5-15 × 0,3-0,8 cm, ápice agudo; lígula 0,5-1 mm, glabras ou com poucos pêlos, azul-esverdeadas, frequentemente enroladas longitudinalmente sobre si mesmas.
Flores: minúsculas, reunidas espiguetas ovais a lanceoladas, verdes, achatadas contra o eixo, as quais por sua vez se reúnem em 2 "espigas", mais raramente apenas 1 ou 3, com 2-5 (8) cm, cada espiga com um pedúnculo; anteras e estigmas frequentemente vermelho-acastanhado.
Frutos: cariopses estreitamente obovadas, ligeiramente concavo-convexa, 2,5-3 mm, subagudas.
Floração: agosto a setembro.
Espécies semelhantes
Paspalum vaginatum é muito semelhante a Paspalum distichum (anteriormente P. paspalodes) mas menos frequente. Distinguem-se porque P. vaginatum tem folhas mais estreitas e as 2 "espigas" (por vezes 3) têm pedúnculos bem visíveis enquanto P. distichum tem 1 espiga com pedúnculo e a outra séssil ou quase (com pedúnculo muito curto ou inexistente) (ver figura abaixo).
Outras espécies de Paspalum (assim como espécies dos géneros Cynodon (com lígula de pelos), Echinochloa (sem lígula) e Digitaria) são relativamente semelhantes mas têm, normalmente, mais do que 2 espigas distinguindo-se por esse aspeto.
Características que facilitam a invasão
Reproduz-se vegetativamente de forma vigorosa, através dos estolhos que crescem e se podem fragmentar tendo grande capacidade de enraizamento nos nós. Também se reproduz por via seminal (embora menos frequentemente), produzindo um elevado número de sementes (1 a 3 gerações de sementes/ano).
Área de distribuição nativa
E.U.A., Equador, África, em grande parte da Ásia, Austrália.
Distribuição em Portugal
Portugal continental (Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Beira Alta, Estremadura, Ribatejo, Baixo Alentejo, Algarve) e Açores.
Áreas geográficas onde há registo da presença de Paspalum vaginatum
Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.
Outros locais onde a espécie é invasora
Açores, Norte de África, África do Sul, Austrália, Chile, China, Europa Ocidental (Espanha, França, Portugal, Sicília, Sardenha), Fiji, Havai, Indonésia, Israel, Japão, Nova Zelândia, ilhas do Pacífico, Península Arábica (Omã) e Vietname. É infestante de arrozais em muitas regiões onde é autóctone (América do sul e sul dos Estados Unidos). É amplamente cultivada como relva e quase certamente ocorre em muitas áreas onde não é necessariamente naturalizada, como algumas províncias da China.
Razão da introdução
Introdução acidental, na Península Ibérica, bem como no resto da Europa, através de sementes provavelmente misturadas com sementes de relva. Na Península Ibérica, a espécie é conhecida desde o final do século XIX.
Tem sido utilizado para o arrelvamento de campos de golfe e relvados em áreas costeiras com baixa disponibilidade de água, uma vez que admite irrigação com água salobra. Desencoraja-se fortemente o seu uso para esses fins, pois apresenta um alto risco de invasão se houver zonas húmidas salinas naturais nas proximidades.
Ambientes preferenciais de invasão
Sítios húmidos com vegetação herbácea, arrozais litorais, mais frequentemente em solos arenosos próximo do litoral, excluindo as espécies halófilas nativas e penetrando com especial facilidade nos ecossistemas que não têm espécies que ocupam os nichos ecológicos semelhantes ao de P. vaginatum. Encontra-se frequentemente em orlas de sapais.
Impactes nos ecossistemas
É responsável por modificação dos regimes hidrológicos/ regulação da água, purificação e qualidade / humidade do solo, alterações nos fenómenos de erosão e deposição em estuários, causando a acumulação de sedimentos e transformando planos abertos de areia / lama em áreas vegetadas. Promove a degradação geral dos habitats formando coberturas densas, monoespecíficas, do solo em pântanos, estuários salobros, prados marinhos, etc. alterando a estrutura e composição da vegetação, afetando a biodiversidade nativa a ponto de eliminar espécies, com repercussões nas comunidades de invertebrados, nos recursos alimentares de aves aquáticas e até na reprodução de peixes.
Pode afetar zonas húmidas importantes para as migrações de aves sendo considerada inadequada para aves pernaltas e uma ameaça a várias espécies protegidas de aves em vários locais do mundo.
Está associada a facilitação de outras plantas exóticas invasoras.
Impactes económicos
Tem enorme impacte negativo a nível económico como invasora de arrozais em localizações litorais e próximos de águas salobras em regiões tropicais (e.g., arroz de mangal na Gâmbia, na Serra Leoa ou nas Filipinas).
Tem também impactes económicos na sequência de invasão de campos de golfe, embora não seja claro quais métodos de controlo usar e com que custo.
Outros impactes
As zonas húmidas dominadas por P. vaginatum estão descritas como uma fonte perigosa do mosquitos em certas partes do mundo.
O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
O controlo desta espécie é desafiante, especialmente por todos os cuidados que é preciso ter nas áreas sensíveis, com grande fragilidade, onde ocorre e pelas restrições aplicadas ao uso de herbicidas; portanto, os métodos de controlo são limitados.
As metodologias de gestão e controlo usadas em Paspalum vaginatum incluem:
Medidas preventivas
Como prioridade, devem adotar-se medidas preventivas que impeçam o estabelecimento desta espécie (e de outras invasoras), que incluam, por exemplo:
- Apostar no bom estado de conservação de habitats naturais das zonas húmidas costeiras e no restauro dos habitats alterados/ intervencionados, o que ajudará a evitar o estabelecimento e a expansão desta (e de outras) invasora.
- Controlar o destino dos solos "contaminados" com fragmentos e/ ou sementes de forma a evitar a sua transferência e reutilização.
- A sensibilização do público é uma ferramenta de prevenção importante. Atualmente, o gramão está a ser utilizado para o arrelvamento de campos de golfe e relvados em áreas costeiras com baixa disponibilidade de água, uma vez que admite irrigação com água salobra. Desencoraja-se fortemente o seu uso para esses fins, pois apresenta um alto risco de invasão se houver zonas húmidas salinas naturais nas proximidades. É essencial que esta informação seja divulgada pelos cidadãos e profissionais que operam nestas áreas.
Controlo físico / mecânico
Arranque manual ou auxiliado por ferramentas (metodologia preferencial): aplica-se a plantas de todas as dimensões, sendo mais razoável em áreas não muito extensas. Como é uma espécie frequente em sítios húmidos o arranque costuma ser fácil; no entanto, se em substratos mais compactados, o arranque deve ser realizado na época das chuvas de forma a facilitar a remoção do sistema radicular. Deve garantir-se que não ficam raízes/fragmentos de maiores dimensões no solo.
Controlo mecânico pode não constituir uma opção eficaz, pois a planta pode facilmente regenerar a partir de fragmentos dos rizomas e estolhos.
Solarização. Constitui uma alternativa ao arranque manual, sobretudo em áreas extensas invadidas pela espécie. Deve garantir-se que não há espécies nativas afetadas.
Controlo químico
Aplicação foliar de herbicida. Pulverizar com herbicida limitando a aplicação à espécie-alvo. No entanto, nem sempre é facilmente controlada por herbicidas, havendo experiências com diferentes princípios ativos em alguns países, com resultados variáveis, por exemplo:.
- o glifosato, seguido de queima ou corte antes da aragem, resultou num controlo efetivo antes da plantação de arroz na Serra Leoa; esses tratamentos proporcionaram melhor controlo de infestantes entre abril e junho do que em março;
- o corte ou a queima de P. vaginatum, seguidos da aplicação de paraquat ou glifosato, permite obter bons resultados de controlo.
- a aragem e a formação de charcos no primeiro ano, seguida pela aplicação de glifosato e a formação de novos charcos no segundo ano, também proporcionaram um controlo efetivo do P. vaginatum (na Serra Leoa).
- os arrozais, pode controlar-se eficazmente com os herbicidas cicloxidim e glufosinato.
Devido à frequente toxicidade dos herbicidas para os invertebrados aquáticos e outros organismos, incluindo plantas não alvo, não se recomendada a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, respeitando a legislação da EU e nacional sobre a utilização de produtos fitofarmacêuticos e respeitando o meio, as espécies e as condições de aplicação (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).
Controlo integrado
O cultivo, a roçagem e o fogo têm sido usados em conjunto com herbicidas de forma a obter melhores resultados no controlo.
Visite a página Como Controlar para informação adicional e mais detalhada sobre a aplicação correta de algumas destas metodologias.
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