Erva perene, de 10-15 cm, com bolbos, sem caules aéreos exceto os escapos das flores, revestida por mais ou menos pelos, formando tapetes densos com folhas trifoliadas e flores frequentemente purpúreas mas cuja cor pode variar.
Nome científico: Oxalis pupurea L.
Nome vulgar: beijos-de-frade, trevo-azedo-rosa
Família: Oxalidaceae
Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (anexo II do Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).
Nível de risco: Em avaliação para Portugal. Atualizado em 31/07/2020.
Sinonímia: Oxalis purpurea var. hopefieldiana R. Knuth; Oxalis purpurea var. montigena R. Knuth; Oxalis speciosa Jacq.; Oxalis humilis Thunb.; Oxalis variabilis Jacq. var. rubra Jacq.; Oxalis humilis Thunb.; Oxalis henriquesii G. Silva
Data de atualização: 23/07/2023
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Como reconhecer
Erva perene, com bolbos, sem caule aéreo exceto os escapos das flores, rastejante, que cresce apenas 10-15 cm, formando tapetes densos, com pelos.
Folhas: em forma de trevo, trifoliadas, com três folíolos arredondados ou ligeiramente emarginados, frequentemente vincados ao centro, verdes na página superior e arroxeados na página inferior, com pequenas manchas translúcidas que ficam negras nas folhas mais velhas.
Flores: solitárias, com 5 pétalas rosa-escuro/ púrpura, rosa, violeta, amarelo ou branco, com 3-6 cm ø, e tubos amarelos na base da flor, que aparecem durante o verão.
Frutos: cápsulas mais ou menos cilíndricas, ca. 5 mm, que abre por meio de fendas e expele violentamente numerosas pequenas sementes ovóides. Não parece frutificar na Península Ibérica, sendo a sua reprodução exclusivamente vegetativa, por meio de pequenos bolbos.
Floração: praticamente todo o ano, mas principalmente de dezembro a abril.
Espécies semelhantes
Outras espécies de Oxalis são semelhantes. As formas de O. purpurea naturalizadas em Portugal parecem ser relativamente uniformes e frequentemente com pétalas rosa-escuro/púrpuras, ao contrário da região de origem onde ocorrem formas com flores rosa, roxo, amarelo, branco, etc. Oxalis pes-caprae (também exótica e incluída na LNEI) e Oxalis corniculata (nativa segundo alguns autores mas de origem incerta, frequente em áreas alteradas.) distinguem-se por terem flor amarela e O. acetosella (nativa), por ter flor branca. Sem flor, diferenciam-se por a primeira ter roseta foliar junto ao solo, a segunda ter caules aéreos avermelhados, bem desenvolvidos, e a terceira não ter manchas translúcidas nas folhas. Outras Oxalis exóticas podem ter flor rosada: O. debilis var. corymbosa tem pétalas rosa, lilás ou amarelo, mais estreitas e em grupos de 2-6 flores; O. latifolia (exótica muito frequente no NW) e O. articulata (também exótica) ambas têm folíolos mais cordiformes e umbelas no cimo de escapos que sobressaem acima das folhas.
Características que facilitam a invasão
Na Península Ibérica não parece dar fruto, reproduzindo-se exclusivamente de forma vegetativa, através dos pequenos bolbos. Em algumas situações os bolbos parecem ter sido fragmentados e propagados por operações culturais em campos agrícolas, ladeados por áreas ajardinadas, que promoveram a sua dispersão.
Área de distribuição nativa
África do Sul (ocorre naturalmente em todas as partes das chuvas de inverno da África do Sul, mais especificamente de Namaqualand, no noroeste, até Port Elizabeth, no sudeste).
Distribuição em Portugal
Portugal continental (Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Beira Alta, Beira Baixa, Estremadura, Ribatejo Baixo Alentejo, Algarve), arquipélago dos Açores (ilha do Pico).
Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.
Áreas geográficas onde há registo da presença de Oxalis purpurea
Outros locais onde a espécie é invasora
Caraíbas, Europa Mediterrânica (Espanha - Astúrias, Cantábria, Galiza e País Basco -, Itália - Sicília), sul da Austrália (Nova Gales do Sul, Victoria e Tasmânia, Austrália Meridional e Austrália Ocidental), sudoeste dos EUA (Califórnia) e Nova Zelândia.
Razão da introdução
Introdução acidental, provavelmente após uso para fins ornamentais e, no passado, para fixação de dunas e taludes (era cultivada com frequência), tendo escapado e tornado-se subespontânea em terrenos cultivados, após aclimatação no Norte e Centro de Portugal.
Ambientes preferenciais de invasão
Campos cultivados, jardins, bermas de estradas e caminhos (ruderal) e aceiros. Em solos revolvidos e arenosos.
Impactes nos ecossistemas
Forma tapetes densos que podem impedir o desenvolvimento da vegetação nativa.
Impactes económicos
Diminuição da produtividade nas áreas de cultivo.
Outros impactes
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O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
As metodologias de gestão e controlo usadas em Oxalis purpurea incluem:
Medidas preventivas
Alerta precoce: a deteção precoce fora do cultivo e de zonas onde já é frequente é importante e depende em parte de voluntários, amantes da natureza, cidadãos cientistas e técnicos que registam as suas observações, por exemplo, no projeto de ciência cidadã "invasoras.pt" no BioDiversity4All/iNaturalist.
Resposta rápida: é importante encontrar novas invasões (afastadas das áreas onde já é comum) o mais cedo possível, a fim de eliminar as plantas e impedir a sua disseminação.
Sensibilização do público: informar e educar o público sobre os perigos de despejar materiais de jardins fora de seus jardins e, pior ainda, plantar espécies de jardins no ambiente natural é uma medida preventiva essencial. Estimular a aquisição de espécies de plantas ornamentais sem potencial invasor, incluindo espécies autóctones, também é importante. Adicionalmente, importa desencorajar a utilização deliberada da espécie como ornamental, a qual está atualmente proibida, mas pode ser trocada "inadvertidamente" entre cidadãos que não estejam alerta para o seu potencial invasor.
Apostar no bom estado de conservação de ecossistemas e no restauro dos ecossistemas alterados/ intervencionados, ajudará a evitar o estabelecimento e a expansão desta invasora.
Controlo físico / mecânico
Ensombramento: na Austrália, em áreas gravemente invadidas, utilizaram-se com êxito técnicas de recobrimento, tanto com coberto vegetal (mulching) como com telas artificiais. Observou-se que este método é especialmente útil contra Oxalis purpurea, já que a remoção das folhas nesta espécie tem um especial efeito inibidor no desenvolvimento dos bolbos. Para tal, a área a limpar deve ser tapada, por exemplo com cartão que deverá estar recoberto por matéria vegetal. Recomenda-se deixar esta cobertura até que tanto a matéria vegetal como o cartão apodreçam. A área poderá ser então repovoada com plantas indígenas sobre a mistura de terra e coberto vegetal degradada. Nessa altura os bolbos estarão o suficientemente enfraquecidos para não poderem competir com as espécies nativas.
Arranque: pode realizar-se com dois objetivos: eliminar fisicamente os bolbos ou tentar consumir as suas reservas. Para eliminar os bolbos, as plantas devem ser arrancadas no começo da estação, antes que se formem novos bolbos. O solo deve ser examinado com detalhe para tentar extrair o maior número possível de bolbos, com cuidado para evitar uma grande perturbação do terreno, o que favoreceria nova invasão com outras plantas, incluindo por parte de outras espécies de Oxalis. Para consumir as reservas acumuladas nos bolbos, será necessário arrancar a parte aérea da planta durante sucessivas campanhas.
Ao terminar as tarefas de eliminação, é fundamental a adoção de medidas básicas de biossegurança: limpar cuidadosamente de forma a retirar todos os bolbos ou fragmentos das ferramentas, botas ou veículos, para evitar a sua dispersão a outras áreas.
Controlo químico
Devido à toxicidade da maioria dos herbicidas para os invertebrados, outros organismos e espécies de plantas não-alvo, não se recomenda a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, o que pode carecer de atualização em Portugal (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).
O momento de aplicação do herbicida tem especial importância na luta contra esta espécie de Oxalis. Os tratamentos devem ser aplicados antes da floração, quando os bolbos velhos estão exaustos e os novos ainda não se desenvolveram. Na Califórnia conseguiu-se um controlo de 95% com aplicações, antes da floração, de produtos que continham glifosato (36%) em soluções de 2%. O momento da floração vai depender da localização geográfica da população e pode variar de ano para ano. Devido ao facto de as plantas não estarem todas no mesmo estado de desenvolvimento, será necessário aplicar o tratamento em anos sucessivos. Há que ter em conta que as espécies de Oxalis entram em stress facilmente durante períodos de seca, o que reduzirá a eficácia de herbicidas sistémicos.
Devido à frequente toxicidade dos herbicidas para os invertebrados e outros organismos, incluindo plantas não alvo, não se recomenda a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, respeitando a legislação da EU e nacional sobre a utilização de produtos fitofarmacêuticos e respeitando o meio, as espécies e as condições de aplicação (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).
Controlo biológico
Não existe nenhum agente de controlo biológico disponível para utilização atualmente. No entanto, na Austrália considerou-se o uso de uma larva mineira dos caules de Oxalis pes-caprae (Klugeana philoxalis) como agente biológico contra esta espécie.
Visite a página Como Controlar para informação adicional e mais detalhada sobre a aplicação correta de algumas destas metodologias.
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