Erva perene de grandes dimensões (até 7 m), com pequenas flores brancas ou rosadas reunidas em grandes umbelas (chegam a 80 cm ø) terminais.
Nome científico: Heracleum mantegazzianum Sommier & Levier
Nome vulgar: branca-ursina-gigante
Família: Apiaceae (Umbelliferae)
Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (Anexo II, Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho) e a Lista de Espécies Exóticas Invasoras que suscitam preocupação na União Europeia (Reg. UE 1143/2014, de 22 de outubro).
Inclui-se nesta fichar alguma informação sobre Heracleum sosnowskyi e Heracleum persicum, espécies muito semelhantes também incluídos na LNEI.
Nível de risco: Em avaliação para Portugal. Atualizado em 31/07/2020.
Sinonímia: --
Data de atualização: 28/08/2024
Ajude-nos a mapear esta espécie no nosso projeto de ciência cidadã "invasoras.pt" no BioDiversity4All/iNaturalist. Contribua submetendo registos de localização desta espécie onde a observar.
Como reconhecer
Erva perene ou bienal ereta, de grandes dimensões (frequentemente até 3,5 m, mas pode atingir quase 7 m), , com raízes tuberosas, robustas, com capacidade para originar novos brotos a cada ano. Caules robustos, ocos, com manchas roxo-avermelhadas.
Folhas: alternas, com bainha na base que abraça o caule, com forma semelhante a um grande prato, nervação palminérvea, profundamente divididas, com dentes irregulares, verdes mas por vezes com manchas roxo-avermelhadas; antes da floração, apresenta uma roseta de folhas que aumentam de tamanho a cada ano, podendo atingir 3 x 1,7 m, as da parte superior da planta diminuindo de tamanho; página superior das folhas glabra (sem pelos), pecíolo e página inferior pubescentes, com muitos pelos.
Flores: brancas ou rosadas, pequenas, com pétalas de até 12 mm, dispostas sobre pedicelos de 1-2 cm, reunidas em grandes umbelas de umbelulas (umbelas compostas); umbela principal de grande tamanho (até 80 cm Ø), com até 8 umbelas-satélite, mais pequenas.
Frutos: numerosos, elípticos e achatados, secos, com 6-18 x 4-10 mm, com sulcos dorsais finos e sulcos alados laterais; frutos maduros com forte cheiro a resina; com faixas escuras distintas (tubulações - ductos de óleo), 2 de um lado e 4 no verso.
Floração: junho a agosto; no ano em que a planta floresce (o que ocorre de 3 a 5 anos), morre.
Espécies semelhantes
As outras espécies mais comuns de Heracleum na Europa, sobretudo o H. sphondylium (nativa em Portugal), não são facilmente confundidas com H. mantegazzianum por serem muito menores, raramente com mais de 2 m de altura, com folhas verde-acinzentadas, com pelos, e com recortes menos profundo e menos agudos.
Heracleum sosnowskyi Mandenova (branca-ursina-de-sosnowsky, exótica, também integrada na LNEI) assemelha-se muito a H. mantegazzianum por atingir grande tamanho, ser monocárpica (floresce apenas uma vez antes de morrer), e ter apenas 1 caule, mas H.sosnowskyi é menor, mais densamente pubescente (tem mais pelos), as folhas têm margens mais arredondadas e recortes menos profundos, os raios da umbela são finamente escabrosos e os frutos têm mais pelos e "manchas" castanhas e inchadas enquanto que H. mantegazzianum tem frutos com poucos ou nenhuns pelos e "manchas" mais avermelhadas e mais estreitas e as folhas têm a margem com recortes mais agudos.
Comparando com Heracleum persicum Desf. ex Fisch., C.A.Mey. & Avé-Lall (branca-ursina-da-pérsia, exótica, também integrada na LNEI) tanto H. sosnowskyi como H. mantegazzianum são maiores, com apenas um caule, umbela mais plana, e florescem só uma vez antes de morrer enquanto H. persicum é menor, tem umbela mais convexa, floresce vários anos e tem forte aroma a anis que não está presente nas outras espécies.
Importa referir que o formato das folhas é extremamente variável nas várias espécies e não pode, por si só, ser usado na identificação.
Características que facilitam a invasão
Reproduzem-se por numerosas sementes, que permanecem viáveis no solo até 7 anos (pelo menos H. mantegazzianum). Os principais vetores de invasão são a expansão mediada por veículos, movimento de solos, como contaminante de sementes, dispersas por água, vento ou por aves (endozoócoria). Têm rápido crescimento e são pioneiras.
Heracleum persicum, ao contrário de H.mantegazzianum e H. sosnowskyi, pode propagar-se vegetativamente quando a reprodução sexual falha.
Área de distribuição nativa
Heracleum mantegazzianum:Cáucaso e Ásia Central; em algumas partes da Federação Russa já é considerada nativa.
[Heracleum sosnowskyi: Cordilheira caucasiana principal oriental e Transcaucásia do sudoeste e leste (Geórgia, Rússia, Arménia, Azerbaijão e Turquia).
Heracleum persicum: Regiões montanhosas do Irão, do Norte do Iraque e da Turquia.]
Distribuição em Portugal
Ainda não há registo de ocorrências em Portugal, em meio natural, de nenhumas das espécies de Heracleum exóticas; foram incluídas na LNEI por fazerem parte da Lista da União. Esta inclusão na LNEI é importante enquanto forma de prevenção!
Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.
Outros locais onde a espécie é invasora
Centro e Norte da Europa (onde a espécie se está a naturalizar rapidamente: como na Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia), Irlanda, Reino Unido, França, Bélgica, Alemanha, Suíça, República Checa, Hungria, Eslováquia, sul da Europa (Espanha, e Itália), América do Norte (Canadá, E.U.A., sobretudo no Este e no Alasca e México), Austrália e Nova Zelândia
Razão da introdução
Nos países onde foram introduzidas, a dispersão para a natureza foi possivelmente acidental, provavelmente a partir do uso como espécies ornamentais, forrageiras e de interesse para a apicultura.
Ambientes preferenciais de invasão
Prados húmidos e pastagens, orlas de bosques e galerias ripícolas e margens de vias de comunicação, valas, campos agrícolas e outras áreas abandonadas, etc. Heracleum mantegazzianum tem preferência por áreas mais húmidas.
Impactes nos ecossistemas
Formam mantos densos que reduzem a biodiversidade nativa, exceto as árvores já adultas; monopolizam os recursos, competindo e desalojando a vegetação nativa.
Aumenta as concentrações de nutrientes essenciais (notavelmente em N, K e Mn), aumenta a condutividade do solo, o pH e o fósforo extraível e diminui a proporção de fungos / bactérias, em parte devido à maior produtividade primária em comparação à vegetação nativa.
Aumenta a erosão do solo resultante do ensombreamento, levando à supressão de gramíneas e outras plantas nativas mais baixas.
Impactes económicos
Custos elevados na aplicação de medidas de controlo (o custo anual é superior a 12 milhões € na Alemanha).
No passado, chegou a haver um impacte económico positivo na antiga URSS, pois a planta era usada para produzir forragem para o gado ou para aumentar a produção de mel. Mas a sua produção agrícola foi abandonada (exceto em partes do norte da Rússia).
Custos associados a problemas de saúde pública decorrentes do tratamento de pessoas com dermatites induzidas pelo contato com a planta.
Outros impactes
Espécie tóxica que causa urticárias, bolhas, descolorações na pele (dermatites) e até queimaduras mais severas, sendo recomendável o uso de luvas para o seu manuseamento.
O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
É importante ter em conta que depois de um exemplar de Heracleum ter formado sementes, essa planta individual morrerá e não voltará a crescer no ano seguinte, pelo que não há necessidade de controlar uma planta que já esteja a formar sementes. No entanto, é necessário recolher as inflorescências com as sementes e colocá-las num saco do lixo (para evitar a sua dispersão) e deixá-las ao sol durante uma ou duas semanas antes de as deitar fora. O resto da planta "moribunda" pode simplesmente ser deixada sem controlo. Se as flores forem removidas de uma planta antes dessas flores se transformarem em semente, então a planta terá de ser controlada (ver métodos abaixo) caso contrário, a planta voltará a produzir novas flores.
As metodologias de controlo usadas em H. mantegazzanium (e nas outras espécies de Heracleum exóticas) incluem:
Controlo físico
Arranque: arrancar, quer cavando quer ao arar, de forma a destruir a parte superior da raiz (abaixo de ca. 3cm de profundidade do solo) pode matar a planta. É possível que grandes infestações possam ser controladas por cultivo profundo (aragem), embora isso não tenha sido testado e geralmente seja impraticável nas margens dos rios.
Corte: incluindo a parte superior da raiz, no início da primavera, e repetido no verão, se houver novo crescimento, costuma dar bons resultados. O método é muito eficaz, mas exige muito trabalho (logo, potencialmente caro) e, portanto, adequado apenas para plantas únicas ou pequenas invasões. A remoção das flores pode impedir temporariamente a dispersão de sementes, mas pode regenerar e voltar a formar flores. Portanto, a remoção requer várias visitas durante a estação da floração. É importante usar roupas de proteção e evitar o contacto da pele com a seiva.
Roçagem mecânica: útil para limpar grandes áreas, se for feito persistentemente, duas a três vezes durante a estação de crescimento. Cortar várias vezes também impede a floração e logo a dispersão de sementes. Algumas experiências parecem indicar que o corte no final da primavera (maio a junho), quando as plantas são mais altas e usam mais reservas de raízes, é mais eficaz do que o corte no início da primavera (março). Parece particularmente eficaz cortar a planta repetidamente no estágio de floração média. Esse momento evita a produção de sementes e esgota as reservas subterrâneas e deve eliminar a população dentro de alguns anos, à medida que o banco de sementes diminui.
Controlo químico
Pode fazer-se uma aplicação foliar de herbicida recorrendo a princípios ativos que regulam o crescimento (triclopir) ou inibem aminoácidos (glifosato). Algumas experiências deram bons resultados ao pulverizar com herbicida (glifosato) limitando a aplicação à espécie-alvo, antes da floração. Algumas experiências nos Estados Unidos remetem para uma pequena janela de tempo, quando a planta está com botões florais ou quando as flores ainda são muito novas (todas as pétalas ainda estão na flor e o ovário ainda não começou a aumentar), na qual podem pulverizar as folhas da planta e esta morrerá com o herbicida antes de as sementes se tornarem viáveis. Nestes casos, o herbicida mata a planta e impede a formação de sementes viáveis, pelo que não é necessário remover as inflorescências/sementes. No entanto, uma planta pulverizada mais tarde na estação pode ainda produzir sementes viáveis antes de morrer e, nessas alturas do ano, as inflorescências/sementes têm de ser removidas. É importante cobrir bem as superfícies das folhas (pulverizar para molhar), mas não pulverizar até o ponto de deixar o líquido escorrer das folhas. Não cortar ou desenterrar a planta até que o crescimento superior tenha morrido. Se as folhas permanecerem verdes duas semanas após o tratamento inicial, pulverizar novamente. Os métodos de controlo também podem incluir corte e pulverização da regeneração com glifosato na primavera e no verão. Também se pode recorrer à técnica de injeção, para controlo individual das plantas, ca. de 30 cm acima da coroa da raiz.
Devido à frequente toxicidade dos herbicidas para os invertebrados e outros organismos, incluindo plantas não alvo, não se recomenda a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, respeitando a legislação da EU e nacional sobre a utilização de produtos fitofarmacêuticos e respeitando o meio, as espécies e as condições de aplicação (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).
Controlo biológico
Várias tentativas foram feitas para encontrar agentes de controlo biológico, mas sem resultados a assinalar, não há, no momento, agentes de biocontrolo disponíveis para esta espécie.
Pastoreio: feito de forma extensiva não serve para controlar, mas o pastoreio intensivo de ovinos ou de porcos demonstrou ser eficaz, pois não foram encontradas sementes viáveis no solo após o pastoreio.
Queima: não é prática ou eficaz para a gestão desta espécie.
Visite a página Como Controlar para informação adicional e mais detalhada sobre a aplicação correta destas metodologias.
Anónimo (2009) Heracleum mantegazzianum, Heracleum sosnowskyi and Heracleum persicum. OEPP/EPPO Bulletin 39: 4889-499.
CABI (2020) Heracleum mantegazzianum. In: Invasive Species Compendium. CAB International, Wallingford, UK. Disponível: /www.cabi.org/isc [Consultado 31/05/2020].
Castroviejo S (2012) Heracleum L. In : Castroviejo S (ed) Flora Iberica - Plantas Vasculares de la Peninsula Iberica y de las Islas Baleares, Vol. CXXIX (UMBELLIFERAE-APIOIDEAE): 365-368. Real Jardín Botanico, C.S.I.C., Madrid.
Department of Primary Industries, Parks, Water and Environment (2019) Weed Risk Assessment: Heracleum mantegazzianum. Disponível: https://dpipwe.tas.gov.au/Documents/Heracleum-mantegazzianum-assessment.... [Consultado em 31/5/2020]
Great Britain Non-Native Species Secretariat (2020) Giant Hogweed, Heracleum mantegazzianum fact sheet. Disponível: http://www.nonnativespecies.org/factsheet/factsheet.cfm?speciesId=1705 [Consultado em 31/5/2020].
Ministerio para la Transición Ecológica (2020) Heracleum mantegazzianum Sommier & Levier- Especie Exótica Invasora. Disponível: https://www.miteco.gob.es/es/biodiversidad/temas/conservacion-de-especie... [Consultado em 31/5/2020]
Nielsen C, Ravn HP, Nentwig W, Wade M (2005) The giant hogweed best practice manual. Guidelines for the management and control of an invasive weed in Europe [ed. by Nielsen C, Ravn HP, Nentwig W, Wade M]. Hoersholm, Denmark: Forest and Landscape Denmark, 44 pp.
Randall, R.P. (2017) A Global Compendium of Weeds. 3rd Edition. Perth, Austrália Ocidental. ISBN: 9780646967493, 3356 pp.
The Plant List (2012) Heracleum mantegazzianum Sommier & Levier. Version 1.1. Disponível: http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-2846056 [Consultado em 31/05/2020]